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Poucas & Boas nº 110: Onde está a mudança?

Marina Silva consolida o 2º lugar em pesquisa Datafolha


A líder do #Rede, ainda em formação, só perde para a Presidenta Dilma. 
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou que seu desempenho na pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira é um "ótimo resultado" para ele. No cenário mais provável para a disputa presidencial de 2014, o tucano aparece em terceiro lugar com 10% das intenções de voto.
"Fico muito satisfeito. Ainda estamos muito distantes das eleições e da definição de candidatos. Até por isso, os institutos de pesquisa deveriam trazer um cruzamento entre o grau de conhecimento e a intenção de votos dos possíveis candidatos. A presidente Dilma, por exemplo, tem 100% de conhecimento, pelo nível de exposição que tem diariamente. O que não ocorre com os outros nomes. É um ótimo resultado", disse o senador, por meio de nota.
Se a eleição fosse hoje, segundo o Datafolha, a presidente Dilma Rousseff teria 58%, seguida pela ex-senadora Marina Silva, que tenta viabilizar sua própria sigla, a Rede, com 16%. Logo atrás estão Aécio Neves, com os 10%, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que aparece com 6% das intenções de voto. Neste cenário, 6% declararam voto nulo ou em branco, e 3% disseram não saber em quem votar. A pesquisa foi realizada entre os dias 20 e 21 de março e ouviu 2.653 pessoas. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

PRF prende membro de quadrilha que atuava em Heliópolis

Antônio Toga Casimiro Júnior, 39 anos, foi preso em trecho da cidade de Amélia Rodrigues 
     Um homem suspeito de integrar uma quadrilha acusada por crimes como porte ilegal de armas, receptação de patrimônio público, tortura, lesões corporais, tentativa e prática de homicídios foi preso no final de tarde de quinta-feira, 21, na cidade de Amélia Rodrigues (a 89 km de Salvador). De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), Antônio Toga Casimiro Júnior, 39 anos, foi preso durante uma fiscalização no K550 da BR-324. O homem era passageiro de um táxi, que foi parado para averiguação. Em pesquisa realizada nos sistemas de investigação, a polícia detectou um mandado de prisão em aberto contra o suspeito por tentativa de homicídio. "Júnior de Feira de Santana", como é conhecido no meio criminal, é integrante da quadrilha "faz-me rir", acusada por diversos crimes nas cidades baianas de Cícero Dantas, Fátima e Heliópolis, além da cidade Sergipana de Poço Verde. Segundo a PRF, uma grande operação realizada em 2012, na cidade de Cícero Dantas, resultou na prisão de oito integrantes da quadrilha, sendo que Antônio Júnior havia conseguido escapar. O suspeito e o taxista foram encaminhados para a Delegacia de Polícia Judiciária de Amélia Rodrigues.
     Informações de A TARDE. Foto: PRF.

Dilma ocupa 52 quartos de hotel em Roma

Dilma não quis se hospedar na Embaixada brasileira em Roma

Somente em hotel de luxo, a comitiva da Presidenta gastou mais de R$ 100 mil em diárias para três dias. Luxo da comitiva contrasta com auteridade do Papa Francisco.
Da Redação do CORREIO
A comitiva da presidente Dilma Rousseff não poupou gastos na viagem de 3 dias a Roma para assistir à missa inaugural do papa Francisco, reconhecido por sua austeridade. A celebração ocorreu na madrugada da terça-feira (19), às 5h30 no horário de Brasília. De acordo com informações obtidas pelo jornal Folha de São Paulo, somente no hotel Westin Excelsior, 30 quartos foram reservados para Dilma, quatro ministros, assessores mais próximos e seguranças. Destes, um foi transformado em escritório para a Presidência da República.
A diária da suíte presidencial, segundo a Folha, custa cerca de R$ 7.700. Já o quarto mais barato sai por R$ 910 por dia. Somente em diárias no Westin Excelsior, a comitiva gastou, no mínimo, mais de R$ 100 mil dos cofres públicos.
Outros 22 quartos foram reservadas para a equipe de apoio, em um outro hotel próximo. Para a comitiva também alugou uma frota de 17 veículos: sete carros sedan com motorista, um carro blindado de luxo, quatro vans executivas, um micro-ônibus e um veículo para os seguranças.
Dilma se recusou a ficar na residência oficial da Embaixada brasileira, que fica localizada em um palacete no centro histórico de Roma. De acordo com o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, a decisão da presidente de ficar em um hotel foi tomada porque a residência está desocupada. O decreto de remoção de Ricardo Neiva Tavares da União Europeia para a Itália foi publicado somente na última sexta-feira (15) no Diário Oficial. 

Morreu Emílio Santiago

O cantor Emílio Santiago interpretou sucessos como "Saigon"

O corpo de Emílio Santiago chegou às 14h na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, após o traslado sofrer atraso. O caixão foi recebido com palmas, inclusive pelos fãs que aguardavam o início do velório. A atriz Marília Pêra e os cantores Marcos Valle, Nana Caymmi, Zélia Duncan e Elba Ramalho foram ao hall principal da Câmara para prestar as últimas homenagens.
A emoção tomou conta do saguão quando Alcione se aproximou do caixão. Chorando muito, a cantora teve que ser amparada por amigos. O mesmo aconteceu com o secretário pessoal de Emílio, Soca, que ajudou a segurar o caixão na chegada a Câmara.
Emílio não resistiu às complicações do quadro clínico de AVC (Acidente Vascular Cerebral) isquêmico -- quando falta circulação de sangue no cérebro -- e morreu às 6h30 no Hospital Samaritano, em Botafogo, na zona sul, onde estava internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) desde o dia 7 de março.
Trajetória
Nascido no Rio de Janeiro em 6 de dezembro de 1946, Emílio Santiago era formado em Direito, mas o vício em ouvir Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e João Gilberto em casa falou mais alto. Com o incentivo de amigos, participou de festivais e concursos musicais, chegando a se apresentar no programa "A Grande Chance", de Flávio Cavalcanti.
A voz marcante, que embalava de baladas a sambas cheios de swing, conquistou críticos e fãs e o primeiro LP, com seu nome, foi lançado em 1975, com canções de Ivan Lins, João Donato e Nelson Cavaquinho.
O sucesso chegou ao cantor de vez em 1988, ao lançar o disco "Aquarela Brasileira", primeira parte de um projeto de sete volumes, dedicado exclusivamente à música brasileira. A série de gravações ganhou uma versão ao vivo, "O Melhor das Aquarelas Ao Vivo", em 2005.
O último disco de Emílio Santiago foi "Só Danço Samba (Ao Vivo)", lançado em 2012, junto com um DVD. O cantor estava com quatro shows programados para o mês de março: dia 13 em Campinas (SP), dia 16 na quadra da Portela, no Rio, e nos dias 22 e 23 na capital paulista. Sua última aparição ao vivo foi no programa "Encontro com Fátima Bernardes", no dia 4 de março, onde cantou um de seus maiores sucessos, "Saigon".
Um dos amigos mais próximos de Emílio Santiago, o artista plástico Evandro Araújo Jr., de 57 anos, afirmou que o cantor sofria de arritmia cardíaca e que nos últimos tempos não estava se cuidando direito.
"Há mais ou menos dois anos, ele descobriu uma arritmia cardíaca. Ele começou a cuidar disso, mas relaxou. A partir daí, o que dizem é que foi a arritma que formou o AVC e levou ao óbito", contou, durante velório na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, na Cinelândia.
Evandro ainda afirmou que na noite de terça-feira (19) Emílio teve uma trombose. "Ele viajava muito, relaxava. Não tomava remédio no horário certo. É complicada a vida de artista. Ele teve uma trombose ontem à noite e essas coisas foram pegando", explicou.
Amigos há 30 anos, Evandro recordou histórias com Emílio. "Quando se perde um amigo, é desesperador, enlouquecedor. E há 30 anos que somos amigos. Tínhamos o plano de envelhecer juntos. Se um ficasse viajando, o outro cuidaria, para não ficar com manias. A gente se sacaneava muito, debochávamos tudo com muito bom humor", conta.
"É um amor de amigo. É como amor de tesão, fica para a vida toda", conclui Evandro.
Amiga próxima de Emílio Santiago, Alcione afirmou nesta quarta-feira (20) que foi uma das últimas pessoas a falar com o cantor.
Muito abatida e chorando, Alcione foi ao Hospital Samaritano, em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro, assim que soube da morte do amigo e relatou a última conversa em 7 de março, dia da internação de Emílio na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
"Passei a mão no braço dele e disse "Eu estou aqui". Ele respondeu: "Que bom, minha irmã"", afirmou Alcione.
Emílio morreu às 6h30 desta quarta-feira, aos 66 anos, devido à complicação no quadro clínico de AVC (Acidente Vascular Cerebral) isquêmico - quando falta circulação de sangue no cérebro.
"Como é que o Brasil vai poder viver sem essa voz? Como é que eu vou poder viver sem meu amigo? Sempre cantávamos juntos. Com certeza ele está com o senhor Luiz e a Dona Ercília, seus pais que o amavam muito", afirmou a cantora.
"Ele deve estar muito bem. Nunca fez mal a ninguém. Só cantou o amor e a beleza desse País. Agora vamos nos conformar e rezar", pediu.
Mais tarde, no velório, ainda emocionada, Alcione comentou: "Tenho horas que me sinto viúva do Emílio. Um grande irmão e amigo. Perdemos uma voz. O Brasil ficou sem voz. Agora só temos o Cauby."
"Era um homem forte"
Antes de ser internado, Emílio Santiago estava bem e tinha apenas diverticulite, doença inflamatória do intestino. "Tínhamos esperança de que ele se recuperasse. Há três anos ele foi diagnosticado com diverticulite, mas era só. Ele era um homem forte, não bebia, não fumava", afirmou a assessora e amiga do cantor, Eulália Figueiredo.
Emocionado, o amigo do cantor, Márcio Tadeu, afirmou que Emílio foi internado após ser encontrado caído em casa. "Foi tudo de repente", disse.
"O diagnóstico foi um AVC isquêmico e depois hemorrágico, as complicações foram se dando, foram mais de 10 dias de internação. Aconteceram agravantes, preservamos (Emílio), mas não escondemos nada", afirmou Tadeu.
Informações do UOL.

Receita de miojo na redação do Enem e recebe nota 560


No meio da redação, no terceiro parágrafo, ele fugiu completamente do tema.Estudante diz que não queria debochar dos corretores
Agência O Globo/CORREIO
Carlos Guilherme
O autor da redação do Enem que incluiu uma receita de miojo no meio da sua prova acha que deveria ter recebido nota zero da banca corretora. Carlos Guilherme Custódio Ferreira tem 19 anos, está no segundo período do curso de engenharia civil da Unilavras, instituição particular de Lavras (MG), e fez a prova “por fazer”.
“Quando fiz o Enem, já estava na faculdade e gostando muito do meu curso. Então, fiz a prova por teste mesmo. Como falaram que a correção seria mais rigorosa, passando por três avaliadores, resolvi incluir a receita para ver se realmente teria uma avaliação diferenciada”.
Nesta segunda-feira, o jornal O Globo publicou reportagem relatando que redações que receberam nota 1000 no Enem tinham erros grosseiros de português. No texto de Carlos Guilherme, não há absurdos ortográficos. Mas, no meio da redação, no terceiro parágrafo, ele foge completamente do tema ("Movimento imigratório para o Brasil no século 21"), e escreve uma receita de miojo. Mesmo assim, sua nota foi 560 pontos.
O estudante, que morava em Campo Belo (MG) com os pais e se mudou para Lavras para fazer o curso superior, afirma que não queria debochar dos corretores. O objetivo era testar a eficiência da correção do Exame Nacional do MEC. “Fiquei surpreso quando vi o resultado. No caso, era para eu zerar, porque fugi do tema. Confirmei o que desconfiava, que não corrigiam todas as redações direito, já que são muitas”.
Mesmo morador de uma típica república de estudantes, onde macarrões instantâneos costumam ser recorrentes na alimentação, Carlos afirma que não come miojo com frequência e não sabe explicar porque usou justamente a receita no texto. “Simplesmente veio à minha cabeça enquanto fazia a prova”.  Para o restante da redação, ele se baseou principalmente nos textos de apoio disponibilizados no exame. Ele conta que já havia lido sobre o tema anteriormente.
Repercussão
Com a receita no 3º parágrafo, a nota deveria ser zero.
Carlos ficou sabendo da repercussão de sua prova na mídia na manhã desta terça-feira (19), quando acordou e abriu sua página no Facebook. Vários amigos postaram mensagens sobre sua redação, mencionando que ela tinha ficado famoso. “Não esperava tanta repercussão. Meus amigos estão achando engraçado e falando que sou corajoso. Acho que, neste ano, a correção da redação será bem mais rigorosa. Se for pensar por este lado, o que fiz foi bom”.
Carlos recebeu 120/200 (60%) na competência 2 da correção, em que são avaliadas a compreensão da proposta da redação e a aplicação de conhecimentos para o desenvolvimento do tema. Pela nota, o Ministério da Educação (MEC) entende que o estudante abordou o tema de forma “adequada”, embora “previsível” e com “argumentos superficiais”. Na competência 3, na qual é avaliada a coerência dos argumentos, o candidato recebeu 100/200 (50%).
Procurado pelo O Globo nesta segunda-feira (18), o Ministério da Educação (MEC) afirmou, por meio de nota, que “a presença de uma receita no texto do participante foi detectada pelos corretores e considerada inoportuna e inadequada, provocando forte penalização especialmente nas competências 3 e 4”. O órgão entende que o aluno não fugiu do tema nem teve a intenção de anular a redação, pois não feriu os direitos humanos e não usou palavras ofensivas.

ISTOÉ DINHEIRO: O Papa que Cristina pediu a Deus


A presidenta da Argentina pode ter no conterrâneo Francisco o aliado que precisa para encontrar saídas para a crise econômica e reverter a debandada de empresas estrangeiras, como a Vale. Haja milagre!
Por Denize BACOCCINA, Luís Artur NOGUEIRA e Carla JIMENEZ – da revista ISTOÉ DINHEIRO.
Papa Francisco: 1º Latino e 1º Jesuítsa a chefiar a Igreja. É argentino.
Enquanto o mundo celebrava o nome de Jorge Mario Bergoglio, como o papa que sucedeu Bento XVI, a presidenta argentina, Cristina Kirchner, mantinha sua agenda protocolar. Somente horas depois de o papa Francisco ter sido anunciado para o comando da Igreja Católica, Cristina falou, publicamente, sobre a escolha do novo pontífice. Estranhamente, não demonstrou entusiasmo com a formidável notícia que seu país havia recebido: o primeiro papa não europeu em 1.300 anos de história é argentino. “Desejamos, de coração, a Francisco, que possa lograr um melhor grau de confraternização entre os povos, e entre as religiões”, disse ela, num indisfarçado improviso, durante um evento na capital.
Àquela altura, seus compatriotas já estavam nas ruas celebrando a histórica escolha dos 115 cardeais, reunidos no conclave, em Roma, nos últimos dias. “Boa noite, sou Francisco”, disse o pontífice, do balcão do Vaticano, para o delírio da população argentina, que vibrou com a escolha do papa, identificado com a causa dos menos favorecidos. A última vez em que os argentinos haviam saído às ruas para fazer barulho foi no dia 8 de novembro, quando mais de 700 mil pessoas foram protestar contra a política econômica da presidenta. O descompasso de Cristina com o sentimento geral da nação fica cada dia mais evidente, não só na celebração do novo papa, mas nas medidas que vêm sendo implementadas por sua equipe de governo.
O tabelamento de preços para evitar as pressões inflacionárias, e o controle de compra de moedas estrangeiras, são algumas das medidas mais recentes do governo Cristina. Na semana passada, os boatos eram de que a presidenta promoveria uma maxidesvalorização do peso. Verdade ou não, o fato é que Cristina ainda paga a fatura da moratória de seu país no final de 2001. Sem crédito internacional, o país vive uma situação fiscal frágil, dependente das divisas com exportações. Enquanto as commodities estavam em alta, até 2011, foi possível administrar o caos. Mas com a queda das cotações a Argentina está à deriva. Será preciso mais que um milagre para reverter o longo inferno astral da maior parceira do Brasil no Mercosul.
A nomeação de um papa argentino, porém, pode ser um alento para a viúva de Néstor Kirchner, que tem a chance de ganhar um aliado importante em suas críticas ao sistema financeiro internacional. Como Cristina, o líder católico é crítico das políticas neoliberais. Em 2002, durante as negociações do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI), quando era arcebispo de Buenos Aires, ele disse que os argentinos deveriam parar de “rezar” para o FMI, porque isso não ajudaria o país a se recuperar de sua maior crise da história. Agora, Cristina tem a chance de capitalizar o papel de liderança global do novo papa em seu benefício. Quem sabe ele poderá ajudá-la nas difíceis negociações com credores e parceiros econômicos.
“Espero que Francisco possa convencer os poderosos do mundo, detentores de armamentos e do poder financeiro, que finalmente dirijam um olhar a suas próprias sociedades e aos países emergentes”, disse Cristina, na noite de quarta-feira 13. “Que o papa leve a mensagem de diálogo a grandes potências do mundo, porque também queremos o diálogo.” A presidenta terá de investir na diplomacia com o Vaticano, uma vez que ela e Bergoglio tiveram divergências públicas. “Bergoglio sempre teve uma relação fria com os Kirchner”, afirma o economista Dante Sica, da consultoria Abeceb.com, de Buenos Aires. Kirchner, quando presidente, chegou a afirmar que o então arcebispo de Buenos Aires era “o verdadeiro líder da oposição”, pelas duras críticas que vinha recebendo por parte dele.  
Três anos atrás, Bergoglio trocou farpas com a presidenta, em função da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Na ocasião, Cristina comparou a fala dele aos discursos dos tempos medievais. Agora, diante do novo papa, a estratégia será outra. A mandatária já avisou que irá à posse de Francisco, onde encontrará a colega brasileira Dilma Rousseff. Para a Argentina, de modo geral, a eleição do papa Francisco terá o mérito de ajudar a população a esquecer um pouco os problemas econômicos, avalia Dante Sica. “Pela primeira vez, há um fator externo que gera um sinal de otimismo e esperança”, diz o economista. Na segunda-feira 11, eles já haviam tido que engolir o referendo promovido pelo governo britânico nas Ilhas Malvinas para reafirmar o controle do território, alvo de uma guerra em 1982.
Os filhos de Francisco
Fé cega: um peregrino de pés descalços reza na praça São Pedro, em Roma, na terça-feira 12, 
quando começou o conclave para a escolha do novo papa


Quase um quinto da população mundial é católica. Conheça os desafios do novo papa:
A escolha de um papa portenho garantiu, ainda, combustível para a velha rixa com os brasileiros, uma vez que o gaúcho dom Odilo Scherer era um dos cotados à sucessão de Bento XVI. “O Vaticano nomeou Bergoglio como represália contra a saída da Vale da Argentina”, ironizou o deputado Jorge Altamira, do Partido Obrero. Mas ele não estava brincando: o clima entre os dois países está pesado. Dois dias antes da eleição do papa Francisco, a mineradora Vale anunciou a suspensão de um investimento de pelo menos US$ 5,9 bilhões no projeto Rio Colorado, na província de Mendoza, para exploração de potássio.
O anúncio escancarou o “risco Cristina”, que vem desestimulando os investimentos naquele país. Em nota oficial, a Vale informou que suspendeu a implantação do projeto porque “os fundamentos econômicos não estão alinhados com o compromisso da Vale.” Em bom português, a queixa da mineradora é a mesma da população argentina: inflação manipulada, situação fiscal precária e câmbio fictício. Enquanto os institutos oficiais apontam uma inflação de 9,9% no ano passado, nas ruas de Buenos Aires os preços sobem a um ritmo superior a 25% anuais. O câmbio também é outro poço de areia movediça. Um dólar vale 5 pesos nos bancos e 8 pesos nas casas de câmbio.
A frágil situação fiscal da Argentina, por sua vez, faz com que o governo recuse pedidos de benefícios tributários, inclusive da Vale, que já havia investido US$ 2,2 bilhões na Rio Colorado. Informalmente, executivos da empresa admitiam que o projeto poderia custar US$ 11 bilhões. Na terça-feira 12, Cristina elevou o tom. Um comunicado oficial da Presidência “lamentou a decisão unilateral da Vale”. No dia seguinte, o ministro do Planejamento, Julio de Vido, deixou no ar a possibilidade de cassar a concessão. “Existe um descumprimento flagrante do contrato”, disse Vido. A mineradora brasileira, em todo caso, deixou aberta a possibilidade de retomar o projeto. Na prática, as negociações já seriam dadas como encerradas.
A Vale não é a única empresa brasileira a rever seus investimentos na Argentina. A JBS, processadora de carne bovina, fechou quatro frigoríficos nos últimos anos, ficando apenas com uma operação na província de Rosário. O plano inicial era montar uma plataforma de exportações. Medidas intervencionistas, porém, inviabilizaram o projeto. Uma delas previa que, para cada 2,5 quilos de carne exportados, a JBS teria de vender um quilo no mercado interno, com preço subsidiado. “Não vamos mais nos permitir perder dinheiro na Argentina”, disse Wesley Batista, presidente da companhia, em março de 2012. Para evitar prejuízos, a empresa de logística ALL também anunciou a venda dos seus ativos na Argentina, incluindo as concessões de ferrovias.
A quebra de safra e as restrições a importações reduziram o transporte de carga. Já a multinacional americana John Deere, que investiu US$ 130 milhões na ampliação de sua fábrica em Rosario, estaria enfrentando dificuldades para cumprir a exigência de 55% de conteúdo local. “Os produtores locais não têm qualidade”, diz uma fonte próxima à empresa. Em Brasília, a decisão da Vale não foi comentada publicamente. Nos bastidores, porém, o Planalto lamenta a suspensão do projeto, porque ajudaria a melhorar as relações entre os dois países. Desde o ano passado, o governo de Cristina havia aumentado as restrições aos produtos brasileiros. Em 2012, o superávit para o País foi de apenas US$ 1,5 bilhão, um terço do valor de 2011.
O potássio argentino da mina da Vale poderia trazer algum alívio, pois o produto seria exportado ao Brasil, e geraria um saldo à Argentina. O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, observa que os argentinos já reduziram em 18% as importações brasileiras. Enquanto isso, as compras da China caíram apenas 6%, e as importações dos Estados Unidos aumentaram 9%. “Eles estão trocando o Brasil por outros fornecedores”, afirma. Esses dados foram apresentados pelo governo brasileiro numa reunião em Buenos Aires no dia 4, que seria preparatória para o encontro de Cristina com Dilma, que aconteceria no dia 7. Foi cancelado por causa da morte do presidente venezuelano Hugo Chávez.
Está sendo remarcado para a segunda semana de abril. Na agenda, o item mais polêmico é o desejo argentino de rever o acordo automotivo, que estabeleceu cotas para a exportação de veículos e autopeças de cada país e, a partir de julho, entrará num regime de livre comércio. Na avaliação de analistas, o caso da Vale é apenas a ponta mais visível de um movimento bem mais amplo. Paira uma dúvida, por exemplo, sobre as três empreiteiras brasileiras que trabalhavam com a mineradora na Rio Colorado. A Odebrecht, em conjunto com a ítalo-argentina Techint, era a responsável pela mina; a Camargo Corrêa foi contratada para as obras em 790 quilômetros de ferrovia; e a Andrade Gutierrez, para o porto em Bahia Blanca, ponto de exportação do produto.
O consultor Thiago de Aragão, da Arko Advice, de Brasília, lembra que as empresas também estão preocupadas com um possível default técnico. O calote acontecerá se o país não vier a renegociar sua dívida com uma parcela de credores internacionais que não aceitaram o valor oferecido pelos bônus argentinos e cobram a dívida na Justiça americana. “O país não depende de fatores econômicos, mas de orgulho e emoção”, diz Aragão. Pois para sair dessa encruzilhada, Cristina terá de apelar para seu lado mais racional, até para contar com o novo papa como aliado. Com viagem marcada ao Brasil, para a Jornada Mundial da Juventude, em julho, o papa Francisco deve fortalecer uma corrente de fé para solucionar os problemas que assombram a Argentina, e por tabela, as empresas brasileiras.