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Poucas & Boas nº 110: Onde está a mudança?

Depois de enterrado Zé Augusto, novo assassinato ocorre em Poço Verde

O sepultamento de Zé Augusto foi concorrido (foto: TV Atalaia)
O corpo do ex-presidiário José Augusto Aurelino Batista, 41 anos, conhecido por Augusto de Lerindo ou simplesmente Zé Augusto, passou por uma nova necropsia no Instituto Médico Legal (IML). O corpo foi encaminhado na tarde da última quinta-feira (16) pela Polícia Federal, que chegou no meio do velório de José Augusto, na cidade de Poço Verde. A perícia durou quase três horas e teve por objetivo identificar se realmente houve disparos de dentro da casa onde ele foi morto. Apenas a mulher de José Augusto pode acompanhar os trabalhos. “Agora a justiça vai ser feita. Estou com meu coração aliviado”, disse a viúva. 
De acordo com o advogado da família, Getúlio Sávio Sobral, o novo exame foi pedido pelo Ministério Público, após o depoimento da viúva Simone Correia, que sinalizou uma possível execução. “A partir desse depoimento, o MP solicitou ao Ministério da Justiça que deslocasse uma equipe da Polícia Federal para intervir no caso”, declarou o advogado. A necropsia, segundo Getúlio Sávio, foi realizada por peritos da Polícia Federal de Brasília, e as investigações estão sendo comandadas por um delegado federal da Divisão de Direitos Humanos. Também será realizada uma perícia na residência de José Augusto, que deverá atestar se realmente houve disparos de dentro da casa. Os laudos devem ficar prontos na próxima semana.
Todo o procedimento pericial foi concluído por volta de 14h30 desta sexta-feira (17), pela Polícia Federal na residência do ex-presidiário, morto durante cumprimento de mandado de prisão no município de Poço Verde, na última quarta-feira (15). Ao fim da nova necropsia, o corpo foi levado para a cidade de Poço Verde e no final da tarde foi sepultado. Uma multidão seguiu o cortejo até o cemitério São Sebastião. A SSP declarou que não vai se manifestar sobre os trabalhos de investigações da Polícia Federal.
Na última quarta-feira (15) a superintendente da Polícia Civil, Katarina Feitosa, declarou durante uma coletiva de imprensa sobre a morte de Zé Augusto, que a ação policial foi legítima e que a intenção da Polícia Civil era mais uma vez prendê-lo, como fez outras duas vezes. Ainda segundo Katarina Feitosa, José Augusto portava uma pistola ponto 40 de uso restrito das forças policiais, chegou a ser socorrido e não resistiu. A superintendente também declarou durante a coletiva que ele era bandido, foragido da justiça, suspeito de mais de 20 homicídios em Sergipe e Bahia. “Inclusive publicamente ele havia dito que a polícia não entraria na casa dele se ele estivesse em casa. Ele ameaçava o Ministério Público e o judiciário do Estado”, afirmou Katarina que ressaltou.  “A nossa intenção era prendê-lo, se não tivesse reagido ele estaria preso. Mas qualquer tipo de irregularidade será investigado, a princípio a ação foi legítima, temos que lembrar que o bandido ali era ele e não a polícia”, concluiu.
Acabou a tranquilidade
Vários são os moradores que defendiam a ação de Zé Augusto. Senhoras chegam a declarar em emissoras de rádio que “Ele matava os bandidos. Era um homem bom”. São pessoas que ou não tem noção da gravidade do que afirmam ou estão cansadas da ausência do estado que ainda não tem um plano de segurança pública. Poço Verde, após os fatos, está tomada por policiais e, mesmo assim, não impediu a ocorrência de mais um assassinato. Um homem foi morto na madrugada deste sábado (18) após ser vítima de arma de fogo no município. O Instituto Médico Legal (IML) registrou o corpo de Valdomiro Silva Santos, de 41 anos de idade. Segundo informações do 7º Batalhão de Polícia Militar (7º BPM), ele foi abordado por dois homens em uma motocicleta, que efetuaram vários disparos contra a vítima. Para completar o terror, pessoas usam as redes sociais para disseminar a ideia de que a violência grassa. Várias fotos de pessoas assassinadas em outras épocas circulam na Internet ajudando a aumentar a sensação de insegurança.
Mais de vinte assassinatos
José Augusto foi morto depois de mandar para o outro mundo mais de vinte jovens infratores. Não há um número exato de quantos foram eliminados por ele. Concretamente só havia o processo do assassinato do garoto retirado da ambulância em São José. As pessoas não falam, mas correm a boca miúda que havia uma vaquinha e que os valores eram de 2 ou 3 mil reais por morte. Chegam a falar em 26 a 2 mil e 14 a 3 mil que povoavam a lista da morte. Os crimes ocorriam em Heliópolis, Tobias Barreto, Poço Verde, Fátima e até em São Paulo. Mas tudo é especulação. Fato é que Augusto de Lerindo estava ganhando fama e tinha pretensões políticas. Ter dado mais votos a um deputado estadual que o prefeito permitiu a ele até sonhar com a prefeitura. Já havia pessoas que diziam que ele seria candidato a prefeito já em 2016. Na história do Brasil os fatos indicam que quando os prejudicados são os pobres parece que a coisa anda. Entretanto, não é permitido invadir o terreno dos poderosos. Fato é que Zé Augusto tinha costas quentes e os fatos serão esclarecidos. É pena que os assassinados não tenham tido o mesmo tratamento, apesar de ainda não existir pena de morte no Brasil.
Com informações da SSP, do portal Infonet e do portal A8 do Sistema Atalaia de Comunicação.

Luiz Eduardo Soares: Conversa de segundo turno

                           Publicado originalmente na Folha de São Paulo
Luiz Eduardo Soares (foto: luizeduardosoares.com)
Tenho amigos e interlocutores no PT. Os amigos respeitam e calam. Os outros me pedem calma. Acham que estou reagindo com o fígado, por mágoa. Digo a eles que não é mágoa, é indignação. Balançam a cabeça, condescendentes. Ainda têm esperança em minha conversão. Cada voto vale a paciência dos militantes.
Sei que essa indulgência com minha rebeldia tem prazo de validade. Assim que desistirem, empurram-me ao inferno sem piedade.
Quando digo que Marina Silva foi caluniada da forma mais torpe pelo PT, atribuem a selvageria ao marqueteiro. Se reajo cobrando responsabilidades, transferem-na à natureza aguerrida da eleição. Quando afirmo que o governo federal endossou a repressão criminosa aos protestos, vacilam, mas apontam para o futuro: o segundo mandato será melhor.
Se questiono o otimismo, lembrando a proposta da candidata de que as Forças Armadas participarão dos comandos locais da segurança, hesitam, mas justificam: isso é retórica eleitoral, o que vale é a prática. Quando digo que a prática tem sido lamentável, voltam a acenar com um futuro diferente.
Ao afirmar que a desigualdade parou de diminuir, respondem com a crise internacional e a estabilização do emprego. Contestam e dizem que estou hipnotizado pelo discurso terrorista da mídia se digo que o pleno emprego cederá ante a estagflação. Se acuso a regressão na área ambiental, mudam de assunto.
Se aponto a cumplicidade com ameaças a indígenas e seus territórios, atribuem os recuos à garantia da governabilidade. Quando falo da manutenção dos velhos métodos políticos, dizem que a presidente tentou estimular uma reforma política, mas que não dependia dela e, afinal, esse é o custo do poder.
Quando pergunto para que o poder se nada avança, respondem com o futuro de conquistas sociais extraordinárias. Se falo da corrupção na Petrobras, dizem que herdaram a peste dos governos anteriores. Se lembro que já são 12 anos de PT, atribuem o escândalo a maquinações para desmoralizar a empresa e fazê-la presa fácil para a privatização.
Quando cito outras instâncias de poder aparelhadas e sublinho o dano causado aos movimentos sociais pela cooptação, respondem com hostilidade, afirmando que meu olhar está viciado pelo ingênuo encantamento com as manifestações de 2013.
Quando, finalmente, afirmo que o governo Dilma foi medíocre, mostram-se dispostos a aceitar, mas questionam qual poderia ser a alternativa. Digo-lhes, então, para seu desgosto: haveria algo mais conservador e medíocre do que defender a mediocridade conservadora?
Resta-lhes a bala de prata: o medo. A oposição arruinará os programas sociais e aprofundará as desigualdades. Pondero: e se o compromisso de manter os programas for para valer? Duvidam: a política econômica neoliberal os destruirá.
Argumento, lembrando que Lula governou com o tripé neoliberal e com Henrique Meirelles no Banco Central. E, assim, arrumou a casa para investir nos programas sociais. Mas Lula é Lula, proclamam. Minha capacidade de acompanhar o raciocínio de meus interlocutores esgota-se nesse ponto, coincidindo com o limite da tolerância que eles se esforçam por estender.
Percebendo que o voto está perdido, confessam o diagnóstico letal: você não passa de um neoliberal.

LUIZ EDUARDO SOARES, 60, cientista político e antropólogo. É autor de "Elite da Tropa" (Objetiva) e de "Tudo ou Nada" (Nova Fronteira). Foi secretário nacional de Segurança Pública (governo Lula).

Zé Augusto é morto em confronto com a polícia

Segundo a SSP de Sergipe, acusado era fugitivo e teria reagido à prisão. Zé Augusto, ou Augusto de Lerindo, era tido como o pistoleiro que promoveu extermínio de infratores em Poço Verde, Heliópolis e Tobias Barreto.
José Augusto foi morto em ação da Polícia Civil de Sergipe
Uma ação desencadeada pela polícia civil para cumprimento de mandado judicial culminou com a morte de José Augusto Aurelino Batista, o Zé Augusto, e deixou sua esposa ferida. A ocorrência foi registrada no início da manhã desta quarta-feira, 15, dentro da residência do morto, na cidade de Poço Verde. Zé Augusto foi preso no ano passado no município de Paragominas, no Estado do Pará, acusado de integrar um suposto grupo de extermínio que teria forte atuação na região de Poço Verde, esquema denunciado pela deputada Ana Lúcia Menezes na Assembleia Legislativa de Sergipe.
Quando ainda preso, a desembargadora Maria Aparecida Gama, plantonista no Tribunal de Justiça de Sergipe, opinou pela liberdade de José Augusto Aurelino Batista, 40, acusado pelo assassinato do adolescente Jeferson Nascimento Santana, 16, dentro de uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) próximo ao povoado São José, na estrada que liga os municípios de Poço Verde e Simão Dias. Na ocasião, a desembargadora atendeu pedido da defesa feito em habeas corpus impetrado pelo advogado Getúlio Sávio Sobral Neto. No remédio jurídico, o advogado sustenta que, durante a instrução do processo, não se colheu provas que vincule o acusado ao crime. Ao observar o habeas corpus, a desembargadora acolheu os argumentos da defesa, deixando claro “não há elementos que apontem os indícios de autoria e materialidade delitivas” no processo judicial. Em novembro de 2013, o Tribunal de Justiça manteve a prisão do réu. Mas o advogado, à época, garantiu que seria vitorioso no momento em que o habeas corpus fosse julgado devido à ausência de provas.
O rumor da existência de um grupo de extermínio, inclusive denunciado pelo Landisvalth Blog, fez a deputada Ana Lúcia (PT) levar à Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe no mês de abril do ano passado. Ana Lúcia Menezes (PT) é presidente da Comissão de Direitos Humanos daquela casa legislativa. O delegado Éverton Santos, da Coordenadoria de Polícia Civil do Interior (Copci), garantiu que a situação na região estava controlada e a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP) não viu necessidade do envio de tropas federais para o município de Poço Verde para proteger a população do suposto grupo de extermínio denunciado
Enquanto Zé Augusto estava preso, o delegado Éverton Santos pediu a renovação da prisão preventiva do principal suspeito de chefiar o grupo de extermínio, localizado e preso em Paragominas, no Estado do Pará, no mês de abril do ano passado, dias depois da denúncia feita pela parlamentar.  Zé Augusto não falava sobre o assunto, mas, após soltura, era comum conversas dele com populares informando que estava eliminando vagabundo para proteger os pais de famílias dos trabalhadores. Zé Augusto passou a ter popularidade e muitos defensores. Alguns chegavam a dizer que Poço Verde estava em paz graças a ele. Hoje mesmo, no Facebook, há manifestações de pesar de admiradores. Muitos chegam a afirmar que acabou a paz na região e que os malandros vão voltar a praticar roubos. Não é sem razão que o candidato a deputado estadual apoiado por Augusto de Lerindo, como era também conhecido, teve mais votos que o candidato a deputado estadual do prefeito. Gustinho Ribeiro, candidato a deputado estadual, tinha cartazes espalhados por Poço Verde com uma mensagem: Apoio: Augusto de Lerindo.
Corpo de Zé Augusto sendo recolhido por policiais
Apesar de oficialmente não haver nenhuma comprovação tácita, o delegado Éverton Santos não tinha dúvida de que José Augusto chefiava o grupo de extermínio, mas ainda não identificou quem financiava a ação do grupo. “Há provas suficientes que ele chefiava o grupo, mas falta identificar quem financiava e quem agia com ele para cometer os homicídios”, observa o delegado.
De acordo com informações da assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Segurança Pública, José Augusto é considerado foragido da justiça e a equipe da SSP vinha realizando diligência desde a semana passada para prendê-lo, em cumprimento a mandado judicial expedido contra José Augusto, acusado de envolvimento no assassinato do adolescente Jeferson Nascimento Santana, 16, crime ocorrido no dia 15 de novembro de 2012, dentro de uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A assessoria informou que, ao receber a voz de prisão na manhã desta quarta-feira, 15, José Augusto teria reagido com tiros disparados contra os agentes que participavam da operação. A assessoria informa que o acusado estaria portando uma pistola TT 100 ponto 40, de uso restrito das forças policiais. A arma foi apreendida, segundo a SSP, com munição deflagrada e que estaria com a numeração raspada. Estranho é saber que ele era considerado foragido, mas circulava em Poço Verde normalmente e ainda participou ativamente da campanha política em apoio ao deputado estadual eleito Gustinho Ribeiro.
Mas, entre a família do acusado, o sentimento é que houve crime de execução praticado pela polícia. A esposa do acusado, Simone Correia, está em estado de choque. Aos prantos, ela contou ao Portal Infonet que os policiais teriam chegado à residência já atirando. “Eu fui abraçar ele para ajudar, mas recebi um tiro na mão”, contou Simone, sem controlar os soluços.
 O suposto grupo de extermínio liderado por Zé Augusto utilizava duas listas para praticar os homicídios em Poço Verde. A maioria dos integrantes da lista era jovens infratores que tinham envolvimento com tráfico de drogas ou passagem pela polícia por roubos e furtos. O lema do grupo de extermínio era “Ladrão e traficante vai rodar se ficar em Poço Verde”. Mas a ação chegou a municípios da Bahia, como Heliópolis, e ainda Tobias Barreto, em Sergipe. A lista dos marcados para morrer tinha mais de 20 nomes. Segundo a superintende da Polícia Civil, Katarina Feitosa, a lista era sempre atualizada. “A maioria das vítimas eram adolescentes infratores e esta lista era sempre atualizada.”, afirmou.

Com informações de Cássia Santana, do portal Infonet.

O chilique chantagista do PT

                Por Alex Antunes - do blog do autor no Yahoo Notícias.
Alex Antunes
O psiquismo petista, nos últimos dias, entrou em um estado de alucinação coletiva. É difícil entender, de um ponto de vista de esquerda, que tipo de “estratégia” poderia levar a escolhas políticas e de comunicação tão erradas, numa véspera de eleição tão delicada.
A ideia de que vivemos num país cindido de cima a baixo (ou, mais exatamente, na linha de fronteira entre o Espírito Santo e a Bahia) sempre foi alimentada pela direita alarmista. É a direita que gosta de teses bisonhas como a da preparação de um “golpe comunista” (exatamente por um governo refém do crescimento do consumo, como o de Dilma?).
A eleição de Lula, e sua melhor fase no governo, baseou-se exatamente no sentimento contrário. Foi o cacife popular (e populista) de Lula que permitiu estabilizar a economia com ferramentas da ortodoxia de mercado, e iniciar uma distribuição de renda. Lula sim é que executou uma frase famosa dita pelo então ministro Delfim Netto durante a ditadura, “é preciso que o bolo cresça para depois dividi-lo”.
Confrontada com a “ameaça” das eleições, Dilma perdeu completamente a mão. Eu sei que as principais decisões de campanha são tomadas pelo marqueteiro João Santana (foto), mas todo publicitário sabe que o marketing tem que manter alguma relação com o “produto” (a candidata, o partido) para não soar completamente falso.
Depois de todas as suposições otimisticamente erradas que fez antes da campanha, Santana sabia que enfrentar Aécio num segundo turno seria uma arapuca. Mas não soube como dosar os ataques a Marina Silva para evitar o reempoderamento de Aécio Neves. Aécio que num determinado ponto da campanha do primeiro turno estava totalmente batido, como bem nos lembramos (afinal faz apenas seis semanas).
Foi o psiquismo petista que levou à agressiva desconstrução de Marina no primeiro turno. O efeito colateral foi turbinar Aécio de novo. E é esse mesmo psiquismo que está esboçando a derrota do PT diante do candidato do PSDB. De fato, a campanha de João Santana passou um tanto dos limites contra Marina – mas serviu de mote para que a militância passasse muito mais.
Marina não é uma candidata fácil de administrar. Passa muito o recibo de que a realidade é complexa (porque é mesmo), e às vezes é até melhor buscar um bom oráculo para produzir uma chispa de sabedoria em momentos difíceis, do que confiar em “lógicas” e certezas ilusórias (o que provocou chacota contra seu hábito, nesse sentido até saudável, de consultar a bíblia em busca de um insight).
Marina portou-se um tanto como Lula, ao tentar abraçar forças dicotômicas. Mas Lula executou essa manobra como um tio conciliador, boa praça e cervejeiro, e Marina queria executá-la com base em uma fala severa (pode-se dizer também que severidade é um elemento que está faltando muito na nossa política).
Era relativamente fácil de desconstruí-la, com base no anseio popular por um candidato com superpoderes e soluções fáceis. Mas algumas escolhas moralistas da campanha funcionaram bem demais. Foi o caso dos ataques à educadora Neca Setubal, que é dona de menos de 2% do Itaú, e foi apresentada como uma representante dos banqueiros na campanha de Marina, quando era exatamente o contrário (uma figura abastada porém simpática ao ativismo social e ambiental, ou seja, algo que absolutamente nos faz falta no contexto brasileiro).
O mesmo com os ataques à posição do programa de Marina relativizando a importância do petróleo como combustível (o mote do “poderio do pré-sal” foi abraçado com gosto pelo sindicalismo mais simplório); e a semântica irrelevante do ambientalista Chico Mendes ser “elite” ou não (é óbvio que qualquer liderança social pode ser chamada de elite, se se atribuir um significado positivo à palavra). E assim por diante.
Os petistas bateram com gosto (e injustiça), enquanto Marina era levada às cordas e não tinha tempo nem habilidade para se explicar. E assim perdeu-se o momento mágico: um cenário em que duas mulheres, vindas do campo da esquerda, uma delas negra, disputariam o segundo turno mais qualificado da história eleitoral do Brasil. Esse teria sido o grande legado de Lula ao país: o embate de suas duas ex-ministras. Escrevi já um pouco sobe isso neste texto, O desserviço final do PT ao Brasil.
Acontece que na equação petista não entrou um elemento: o fato de que o partido vem construindo, ao longo do tempo, uma sólida antipatia em setores da sociedade. Não só os da assim chamada direita, que repelem o PT pelas razões erradas (aversão aos programas de inclusão social e de horizontalização da sociedade), mas também com setores que têm uma percepção mais “à esquerda”, ou com preocupações sociais. E é aí que começa o grande problema para o PT.
No seu curso à direita, nestes 12 anos de poder, o partido foi de enorme inabilidade política, ao deixar se romperem os laços com muitos movimentos sociais. Os ápices da incompreensão foram junho de 2013 e as manifestações contra os gastos na Copa, em que o PT alienou e tratou como inimigos aqueles que seriam aliados naturais.
Substituiu-os por bagaços políticos que o próprio PSDB havia abandonado à sua sorte, como Sarney, Maluf, Collor etc. Lula, o “tio conciliador”, teve a ideia duvidosa de chamar para si esses resíduos do pior da política do século passado, contando controlar e alimentar um pouco os seus minguantes poderios locais. Perdeu parte da credibilidade à esquerda, sem ganhar nenhuma à direita.
O mesmo erro aconteceu com os políticos neopentecostais, que Lula, num primeiro momento, também supôs que controlaria politicamente, como contrapeso à influência da igreja católica nos seus ambientes políticos de origem – os mesmos que fundaram o PT. E essa origem psicossocial igrejeira e sindical do PT merece um comentário à parte.
Certamente ela tem a ver com esse psiquismo petista que agora fugiu ao controle: o de que toda a complexidade social, cultural e política nacional se reduz a um “eles contra nós”, um “nós que temos o monopólio das boas intenções”, um “exigimos um voto de confiança contra os bandidos”. E ninguém vê isso de fora.
Esse paradoxo se apresentou na época da denúncia do mensalão, em 2005. Foi quando uma ala petista com um pensamento político mais saudável falou em “refundação do partido” – e não em tentar varrer o problema para baixo do tapete (não deu certo, como vimos).
Essa duplicidade petista, que é tão estranha e indigesta vista daqui, vista pelos petistas parece gerar ainda maior aflição e urgência. E inconveniência. No momento em que precisa atrair eleitores à esquerda (porque os de direita já estão perdidos para o Aécio), a campanha dá destaque à senadora ruralista Katia Abreu? Exatamente a que é conivente com o armamento de fazendeiros para o assassinato de índios?
No momento em que é confrontada com mais um escândalo na Petrobrás, Dilma discursa contra a corrupção… tendo ao seu lado, no mesmo palanque alagoano, representantes clássicos da corrupção como Collor e o filho de Renan Calheiros? No momento em que mais precisa do voto paulista (estado central na história do PT, cuja capital já elegeu Erundina, Marta e Haddad), incentiva o mito de que o estado só tem reacionários?
Laura Capriglione desenvolve o assunto em seu blog:”Bairros pobres e históricos redutos do PT, como o Campo Limpo, na zona Sul, terra onde vive Mano Brown, por exemplo, ou Itaquera e São Miguel Paulista, na zona Leste, sufragaram mais Aécio do que Dilma. Capela do Socorro, lar do sarau da Cooperifa, do poeta Sergio Vaz, também. E a Pedreira, Ermelino Matarazzo e Cangaíba (…) Vai falar lá que aquela gente morena, parda e preta, que eles são a elite branca, fascista, oligarca ou coisa que o valha”.
Dilma, o PT e a militância deveriam tratar a questão com mais desassombro e delicadeza (até porque, na verdade, qualquer presidente eleito estará subordinado exatamente às mesmas forças políticas, representadas no PMDB e nos partidos fisiológicos, e não no PT nem no PSDB). Mas certamente estão alienando mais ainda os eleitores que perderam nos últimos anos.
Parece difícil, a esta altura do campeonato. Sem que haja o menor motivo prático, os petistas continuam agredindo não só Marina, mas quem pensou em votar nela, naquele não tão distante momento em que o Brasil quase teve uma eleição presidencial decente.
O PT surtado se parece muito com a caricatura, chantagista, desleal e descompensada, que os colunistas de direita tanto gostam de fazer dele. E parece querer confirmar a tese de que só na oposição poderá se requalificar na importância política e social que já teve.

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Maioria dos eleitores de Marina vão para Aécio

De acordo com levantamento do Datafolha, os eleitores da ex-senadora Marina Silva já tomaram partido na disputa do 2º turno e o candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB) é quem mais se beneficiou do espólio da candidata do PSB.
Segundo o Ibope, 64% dos que votaram em Marina disseram votar agora no tucano, enquanto 18%, na presidente Dilma Rousseff (PT). Brancos, nulos e indecisos somaram 18%. Pelo Datafolha, o comportamento é semelhante: Aécio herdou 66% dos eleitores da adversária, e a presidente, 18%. Os que disseram votar em branco, nulo ou não souberam responder representaram 16%. Nos dois levantamentos, Aécio obteve 51% dos votos válidos, e Dilma, 49%.
O Datafolha mediu o potencial de transferência de voto de Marina no segundo turno. Ao perguntar aos entrevistados se eles levariam em conta uma declaração de apoio de Marina para definir o voto, 49% disseram que a posição da ex-senadora será “indiferente”. Outros 40% disseram que levariam em conta a posição dela. Já 9% declararam que votariam, com certeza, em quem Marina apoiasse.
Para a maioria do eleitorado (72%), a expectativa é que Marina anunciasse apoio a Aécio, mostrou a pesquisa Datafolha. Apesar de o segundo turno ter começado esta semana, é alto o índice de eleitores que estão decididos em relação ao voto. No Ibope, apenas 11% do eleitorado dos dois candidatos admitem rever o voto declarado na pesquisa — 85% disseram que a decisão é definitiva.
Pela primeira vez, o Datafolha fez uma análise das intenções de voto, segundo a classe social dos entrevistados. O tucano tem seu melhor desempenho na classe alta (74% das intenções de voto) e média alta (67%). Dilma lidera entre os eleitores da classe baixa (64%), classificados como excluídos pelo instituto, e da média baixa (53%). Na tradicional classe média, há um empate técnico: Dilma tem 52%, e Aécio, 48%.
Pelo Ibope, a passagem do candidato do PSDB para o segundo turno pode atrair quem afirmou ter anulado ou votado em branco no primeiro turno. Nesse grupo, 31% dizem que vão votar em Aécio, e 13%, em Dilma. Cerca de 47% continuam inclinados a anular ou votar em branco no segundo turno.
CRUZAMENTO COM AVALIAÇÃO DE GOVERNO
Mas a disputa promete ser intensa até o fim da corrida. O cruzamento das intenções de voto com a avaliação do governo Dilma, segundo o Ibope, indica que a presidente tem mais espaço para crescer entre os eleitores que consideram o governo Ótimo/Bom do que Aécio no grupo de eleitores que avalia o governo como Ruim/Péssimo.
Entre aqueles que avaliam positivamente o governo, hoje o maior contingente do eleitorado, de acordo com o Ibope, Dilma registra 85% de intenções de voto, enquanto Aécio tem 12%. No grupo dos eleitores que avaliam o governo como Ruim/Péssimo, Aécio registra 80% de intenções de voto contra apenas 3% de Dilma. Nesse grupo, cerca de 14% dizem que preferem anular o voto a apoiar o candidato do PSDB.
Pelo Datafolha, os números são diferentes, mas as tendências, semelhantes. Entre os eleitores que avaliam o governo como Ótimo/Bom, Dilma soma 80%, e Aécio, 14%. Quem avalia o governo negativamente vota majoritariamente no candidato tucano: 88%. Nesse grupo, Dilma tem apenas 3%. Os brancos e nulos chegam a 7%. No levantamento do Ibope, 39% dos eleitores avaliam o governo Dilma como Ótimo/Bom, contra 27% que o consideram Ruim/Péssimo, enquanto 33% o consideram Regular.
A grande diferença de intenção de voto dos dois candidatos segundo a avaliação do governo indica que aqueles que consideram a administração federal como Regular terão um papel importante nesta reta final da campanha. Esses eleitores, em tese, têm mais probabilidade de mudar de posição. Nesse grupo, Aécio tem hoje a maior proporção de intenções de voto, segundo o Ibope: 58% contra 29% de Dilma Rousseff. Embora com percentuais um pouco diferentes, o Datafolha também aponta para o peso que o grupo intermediário terá nesta reta final. Aécio tem 55% entre aqueles que dizem que o governo é Regular, enquanto Dilma marca 30%. Brancos e nulos somam 6%.
REJEIÇÃO AINDA É MAIOR
Dilma continua tendo os maiores índices de rejeição desta eleição. No Datafolha, os eleitores que não votam de jeito nenhum nela somam 43%. Os resistentes a Aécio são 34%. Para o Ibope, a taxa do tucano é de 33%, e a da presidente, de 41%. (Do portal do MSN)

Com definição de Marina, mapa de apoio aos candidatos está definido

                               STEFÂNIA AKEL - O ESTADO DE S. PAULO
Os principais grupos políticos do País já têm suas posições para o 2º turno da disputa presidencial, ainda que com diversas dissidências partidárias
Aécio Neves (PSDB) recebeu mais apoios que Dilma (PT)
Com a manifestação de apoio formal da ex-candidata Marina Silva (PSB) ao candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, os principais grupos políticos já têm suas posições definidas no segundo turno, ainda que com diversas dissidências partidárias.
Uma semana após ficar em terceiro lugar na eleição presidencial, Marina declarou no domingo, em São Paulo, apoio a Aécio. Em seu pronunciamento, ela afirmou que a decisão teve como base a carta de compromissos anunciada pelo tucano no sábado e que "a alternância de poder fará bem ao Brasil".
Também no fim de semana, a família de Eduardo Campos recebeu o tucano em Pernambuco e o filho do ex-candidato, João Campos, leu carta de apoio a Aécio. No decorrer da semana passada, PV, PSC, PSB, PSDC se manifestaram favoravelmente ao candidato do PSDB.
Já a presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) recebeu o apoio formal do PROS, enquanto o PSOL de Luciana Genro optou por recomendar voto em Dilma ou nulo. O governador reeleito de Santa Catarina no primeiro turno, Raimundo Colombo (PSD), já afirmou que trabalhará pela petista no segundo turno. Além de PROS e PSD, a coligação de Dilma é formada pelo PP, PR, PRB, PMDB, PDT e PCdoB. A coligação de Aécio é composta por DEM, PTB, SD, PMN, PTC, PT do B, PTN.
Dissidências. As dissidências dentro dos partidos, porém, foram abrangentes. O senador Cristovam Buarque (PDT) contrariou orientação do presidente da sigla Carlos Lupi e declarou apoio ao tucano. A executiva paulista da Rede Sustentabilidade, grupo político de Marina, ficou rachado após a decisão da ex-ministra. Segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, uma carta conjunta deve ser apresentada nesta segunda-feira, na qual integrantes da executiva estadual renunciarão as suas funções. O número de desligamentos pode chegar a sete. Oficialmente, na semana passada, a Rede recomendou voto em Aécio ou nulo, mas em seguida classificou a posição como um "grave erro político".
No PSB, Roberto Amaral, presidente interino do partido, foi contra a decisão oficial da legenda e declarou apoio pessoal a Dilma. "A rebeldia do Amaral não muda nossa convicção e tampouco mudará a nossa decisão", declarou o deputado Beto Albuquerque, vice na chapa derrotada de Marina. Com isso, Amaral deve ser afastado da direção do partido. Na soma geral, Aécio leva nítida vantagem. Renata Campos, viúva de Eduardo Campos, e Marina Silva são os apoios mais significativos.

Marina Silva votará em Aécio Neves

Marina Silva deixa neutralidade evai votar em Aécio Neves 
Terceira candidata mais votada no primeiro turno das eleições presidenciais, Marina Silva (PSB) anunciou neste domingo (12) apoio formal a Aécio Neves (PSDB). O tucano disputa o segundo turno com Dilma Rousseff (PT). O apoio foi dado um dia após o tucano se comprometer a cumprir, mesmo que de forma vaga, quase todas as exigências feitas por Marina.
Em documento divulgado pela campanha de Aécio, ele se comprometeu a garantir ao Executivo o papel de demarcação de terras indígenas, a ampliar a reforma agrária e acabar com a reeleição de cargos do Executivo. O único dos principais pontos que ficou de fora do documento lido por Aécio foi a redução da maioridade penal, outra proposta feita por Marina.
"Quero deixar claro que entendo esse documento como uma carta compromisso com o povo brasileiro. Rejeito que seja dirigida a mim em busca do meu apoio", disse Marina em seu discurso hoje. Ao apoiar o tucano, Marina não repete o que fez em 2010, quando também terminou o pleito na terceira posição. Na ocasião, ela preferiu ficar neutra em relação à disputa entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).
A Rede Sustentabilidade, o movimento político de Marina, que pretende se transformar em um partido, pediu a seus militantes que no segundo turno não votem em Dilma ao recomendar voto branco, nulo ou em Aécio. O PSB, partido pelo qual Marina concorreu à presidência, declarou seu apoio ao tucano. Ontem, a família do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo em agosto, também declarou apoio formal a Aécio. (Da redação doUOL).