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O assassinato que desafia o PT na Bahia

                               Landisvalth Lima
Dr. José Carlos, assassinado em 2014
(foto: Sítio News)
Começa nesta quinta-feira (11) mais um congresso do Partido dos Trabalhadores. Será realizado em Salvador. Antes de encerrar esta postagem, foi confirmada a presença de Dilma Rousseff na abertura. Não sabemos o que fizeram para forçar a presença da Presidente, mas posso imaginar. Para o tal Congresso, o partido recebeu sete teses, distribuídas em generosas 165 páginas, que vão fomentar os debates. A palavra “corrupção” aparece 63 vezes. Em nenhuma delas o PT admitiu que meteu a mão no dinheiro do povo. A corrupção é sempre da elite, da direita, do PSDB, do escambau, menos do PT. A frase melhorzinha, que se aproxima de um sentimento de mea culpa é esta: “Não pode haver uma ética socialista do PT sem uma ética pública, isto é, a corrupção ou a convivência com a corrupção mina a própria identidade socialista do PT.”
Mas não é só a corrupção que está matando o PT. É sua incompetência em ser governo de uma nova era. Aquela velha Bahia dos assassinatos sem elucidações, por exemplo, continuou como nunca antes na história deste país. E pego aqui o exemplo do assassinato de um filiado do próprio PT. No início da noite de uma sexta-feira, 02 de maio de 2014, o médico José Carlos Bezerra Carvalho, 49 anos, conhecido como “Dr. Zé Carlos”, ou ainda Zé Carlos do PT, proprietário da rede de clínicas UCP, foi assassinado em frente à academia de ginástica que frequentava. Calaram o médico com tiros na cabeça, desferidos por dois homens que chegaram em uma moto. Zé Carlos morreu no local.
Para que você se recorde bem, José Carlos foi candidato a prefeito nas últimas duas eleições em Paripiranga, 2008 e 2012. Na última, perdeu a eleição por algo em torno de 5% dos votos. Independente das desgraças provocadas pelo seu partido, seu nome era cotadíssimo para sentar na cadeira de prefeito de Paripiranga em 2017. O crime ocorreu no dia em que aconteceria uma grande festa em praça pública na cidade, para comemorar os 128 anos de emancipação política de Paripiranga. A festa foi cancelada e a prefeitura decretou luto oficial no município.
Alexandre Magno (direita) com o advogado Caio Pires
(foto: Bocão News) 
Ora, pois bem, estamos entrando no 14ª mês do crime e parece que tudo se resume à luta de um único nome para desvendar o mistério. Trata-se do delegado de Paripiranga, Geuvan França Passos Junior. Ele afirmou que o crime foi de mando e teve a assinatura de Alexandre Magno Rodrigues de Oliveira, braço forte do prefeito atual da cidade, George Roberto Ribeiro Nascimento (PSD), apontado também como um dos envolvidos na trama que matou José Carlos. Para o delegado, Alexandre contratou como executor um homem identificado como Leonardo Fraga de Baranhos. Motivo provável: a eleição de 2016. José Carlos era o favorito. O promotor, Alexandre Magno, seria o adversário.
O delegado chegou a dizer em vários portais e emissoras de rádio que o crime começou a ser desvendado após a prisão de Igor Carvalho, condutor da moto usada no dia do crime e este apontou os outros envolvidos, que já eram suspeitos da polícia. Leonardo Baranhos está foragido. Outro fato citado pelo delegado foi a morte do chefe de gabinete do prefeito George, Lázaro Matos Fraga, ocorrido em 30 de novembro de 2014, e que também teria sido executado por Leonardo. Lázaro também era suspeito de ter mandado matar um tratorista da cidade de Lagarto, conhecido como Baiá. O executor deste crime teria sido o pistoleiro Zé Augusto, de Poço Verde, morto em 15 de outubro de 2014, noticiado aqui por este blog.
Prefeito George Nascimento
(foto: Carlino Souza)
Mas a onda de crime não fica só por aí. Há ainda outros crimes atribuídos a Lázaro: as mortes dos sobrinhos de Leonardo. Além de matar, Lázaro queimou os corpos das vítimas. As suspeitas são de que eles tinham envolvimento com outros crimes e teriam sido vítimas de queima de arquivo. O delegado ainda declarou que o acusado de mandar matar Dr. Zé Carlos, o procurador Alexandre Magno, teria encontrado Leonardo, no mesmo dia do crime, das 14 horas até o anoitecer, em um bar próximo ao local onde o médico foi executado. Ainda de acordo com as informações de Geuvan, Leonardo sempre usava o veículo do procurador, que também seria o padrinho do filho do executor do crime. 
Do outro lado, Alexandre Magno se diz inocente e entrou com uma representação na Corregedoria da Polícia Civil, além de uma ação cível contra o delegado Geuvan. O procurador deu entrevista ao portal Bocão News, inclusive acompanhado do seu advogado, Caio Graco Pires, e jurou inocência. Não poupou críticas à postura do delegado Geuvan França Passos, responsável pelas investigações. E vai mais longe ao dizer que "as alegações são completamente irresponsáveis, sem qualquer substrato probatório. Os depoimentos de todas as testemunhas, absolutamente, não demonstram qualquer envolvimento meu com o que aconteceu. Não tem o menor sentido", afirmou o procurador Alexandre Magno Oliveira.
Na mesma entrevista no Bocão News, o acusado e a defesa argumentam que o delegado não tem competência para encabeçar as investigações. "Ele teria que fazer um requerimento ao Tribunal de Justiça, que deveria ser deferido para que ele pudesse começar as apurações. Na verdade, a quantidade de informações veiculadas pelo próprio delegado na mídia demonstra o despreparo técnico de se trazer informações que deveriam ser sigilosas à população, sem, sequer, ter finalizado o inquérito", contestou o advogado Caio Graco Pires. Está clara a tese da desqualificação do investigador.
O que Alexandre Magno não gostou foi uma entrevista dada pelo delegado a uma rádio do município de Paripiranga. Nela, o delegado Geuvan Passos, que mora em Aracaju, disse que só ficará à frente da comarca da cidade até concluir o inquérito, por não ter mais condições de continuar como delegado devido à falta de condições de trabalho, já que o promotor da cidade é amigo pessoal do principal acusado de mandante do crime. Sobre o Alexandre Magno pesam ainda outros fatos: Em 2013, ele chegou a ser apontado como o mandante de uma agressão contra vereadores do Partido Republicano da Ordem Social (PROS), da base aliada do prefeito George.
Delegado Geuvan Passos
(foto:Ilza Nery)
Isso que o delegado afirmou em entrevista, num país civilizado, já seria motivo de intervenção. Há suspeita de que haja favorecimento na Promotoria. Também é suspeito ouvir alguém falar que os fatos deveriam correr em segredo. A não divulgação só pode ser aceita se a publicidade atrapalhar as investigações. Mas, pelo que disse o delegado, já há uma conclusão. Cheguei a tentar uma entrevista com o delegado Geuvan sobre o caso e não o encontrei, mas soube depois que ele não daria entrevista mais porque foi proibido por superiores da Secretaria de Segurança Pública.
As perguntas geradas pelo caso insistem em nos alertar. Se o prefeito de Paripiranga não fosse aliado do governo do PT, esse caso já estaria resolvido? Para o governo do PT, uma vez que o filiado já morreu, é melhor ficar com o aliado para não perder os dois? Por que um crime desses ainda não foi desvendado, mesmo depois de apelos da deputada Fátima Nunes? E por que a deputada se calou após as eleições? Quem está impedindo um desempenho eficiente da Secretaria de Segurança Pública? Seria incompetência? E por que um delegado, sozinho, no peito e na raça, enfrenta poderosos e depois, misteriosamente, é obrigado a se calar?
Não sabemos se o Alexandre Magno é o verdadeiro mandante do assassinato de José Carlos. Também não sabemos se as investigações do delegado Geuvan estão corretas. A Justiça vai dar a palavra final, acredito. Mas o que está aqui já colocado é o buraco em que o PT se meteu. Parece que não se vê interesse do partido em solucionar o caso. E não é um crime comum. Envolve um filiado, um companheiro, que levantou a bandeira do partido em duas eleições. Se o crime deste homem está tendo este destino, o que esperar dos assassinatos de anônimos? O que esperar da nossa SSP? Se os crimes contra quadros do PT não são solucionados, imaginem se assassinarem um peessedebista? 
Tudo isso leva a população a crer que não temos governo e pode desaguar num salve-se-quem-puder. Não precisa nem mesmo aqui falar na quantidade de mortes que acontecem todos os anos, transformando as ruas em praça de guerra. Os roubos a bancos estão aí acontecendo todos os dias. Tenho a sensação de que as últimas coisas em que o governo do PT pensou foi em segurança pública, saúde e educação. No seu 5º congresso, nas sete teses, a palavra “educação” aprece apenas 35 vezes, “saúde” – 28 vezes – e “segurança” mereceu apenas 12 citações. Em compensação, a palavra “direita” aparece 91 vezes e a palavra “capital” – 143 vezes. A expressão “erro do PT” não aparece nenhuma vez.