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Nossa Senhora de Lourdes - Cidades do Velho Chico 21

A serpente de Ildinho

Em política, não se pode dizer que é traição quando alguém tem a oportunidade de ser candidato e o faz. Todos que estão no mundo político podem e devem ser candidatos. Traição é quando se fecha um acordo, com escolha de chapa e tudo, e o político debanda para o lado adversário. Pior que o traidor é a serpente. Criá-la debaixo da cama e achar que ela está domesticada é ledo engano. A cobra tem algo que está longe de ser remédio: é o veneno. Ildinho, prefeito reeleito de Heliópolis, tem sua cobra: o vice Zé do Sertão. O veneno dele é o desejo insano de poder.
A maior dor de cabeça de Ildinho não foi a desenfreada compra de votos, nem a acirrada e disputadíssima eleição. Fazendo boa administração, era de se esperar que o prefeito obtivesse reconhecimento óbvio. As pesquisas afirmavam que sim, que Ildinho seria eleito com folga. O Instituto Padrão de Aracaju cravou 19,5% de frente, equivalente a mais de 1 mil e quinhentos votos. Como a pesquisa também indicava 10% de indecisos, caso todos resolvessem votar no PCdoB, ainda teríamos uma frente de 800 votos. A margem foi apertada, mas mesmo assim esta não foi a maior batalha do prefeito.
Também não foi para Ildinho uma dor-de-cabeça o candidato adversário. Tinha pouco carisma, fraco discurso, um programa que não convencia a ninguém e uma atuação que não chegou a empolgar. Mendonça era a ferramenta de um grupo para conquista do poder. Em Heliópolis, se o histórico do candidato contasse ele nem mesmo seria candidato. Entretanto, o que vale é a força do grupo político. Ildinho estava lutando contra um candidato fraco, mas representante de um grupo político forte. Mesmo assim, esta não foi ainda sua pior dor-de-cabeça.
Ildinho sofreu, e continua sofrendo, com o ex-prefeito, ex-deputado, e agora ex-suplente de vereador, José do Sertão, futuro vice-prefeito do próprio Ildinho. Ainda não surgiu na vida do atual prefeito dor-de-cabeça maior. Desde que levou para o PROS os dois vereadores, Valdelício de Gabriel e José Clóvis, o que permitiu sua indicação forçada para ser o companheiro de chapa, o atual prefeito de Heliópolis não teve um só dia de sossego. Logo que a chapa foi registrada, Zé do Sertão ameaçou renunciar, principalmente quando percebeu que sua filha não estava bem nas pesquisas. Ele usou de todos os recursos, republicanos ou não, para garantir a eleição de Joana Darte.
Passada a eleição, com a derrota da filha, quem disse que o homem amainou sua alma? Agora quer porque quer que seja garantido à filha uma vaga no parlamento municipal. Para tanto, já flerta com a oposição. Ontem, o presidente da Câmara, exatamente na hora em que cheguei para assistir à sessão, convocou o ex-prefeito e futuro vice para ocupar um espaço na mesa do Plenário. Isso é um aviso a Ildinho, ou melhor, uma ameaça. Já anda até elogiando o trabalho de Ana Dalva como secretária de saúde para induzir Ildinho a chamá-la novamente para a pasta. Ana Dalva já avisou que não quer.
Não se surpreendam com um acordo entre o PROS e o PCdoB para a presidência da Câmara Municipal. Em votações importantes, Ildinho seria colocado contra a parede para convocar um vereador para uma pasta e Jane assumir. É agora a hora de ver a fidelidade dos vereadores José Clóvis e Valdelício. Duvido que eles fiquem contra Ildinho. Para isso, seria necessária uma ação política do grupo, que já está tardando. Beto Fonseca precisa acender a tocha da ação política. Não há descanso para quem está no poder. Para os opositores, só resta jogar lenha na fogueira para ver Ildinho se queimar.  
A serpente alimentada por Ildinho nestes quatro anos está procurando o seu ninho preferido. Para que o prefeito tenha paz, é necessário congelá-la, tirando todas as possibilidades de picar alguém. Sem veneno, serpente vira cobra verde. Aí, só lhe restará o que o destino pode lhe reservar. Nesse caso, temos que rezar muito, muito mesmo, para que Deus dê saúde ao prefeito nos próximos quatro anos, porque a cobra está debaixo da cama e Heliópolis não merece ser tragada por este veneno. 
(Landisvalth Lima)